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A gatorra de Tony e a inventividade na música brasileira independente

  • Foto do escritor: Concreto Neves
    Concreto Neves
  • 30 de jun.
  • 3 min de leitura

Tony da Gatorra é, sem dúvida nenhuma, uma dessas figuras que circula entre as lendas e os mistérios da música brasileira. E, como toda boa lenda, está imersa em criatividade e invenção. Ele não é apenas um luthier, mas um daqueles gênios da criatividade que, em vez de se acomodar na fórmula já testada e aprovada, resolveu criar seu próprio instrumento. Cá entre nós, a gatorra não é só um instrumento. É quase uma metáfora ambulante da música brasileira: um híbrido maluco de hippie-eletrônico com o espírito do rock de garagem.


A cena musical independente brasileira sempre foi marcada por uma criatividade incansável, onde o improviso e a gambiarra se tornaram virtudes. Se por um lado a necessidade de reinvenção surge da escassez de recursos, por outro ela se transforma em um terreno fértil para a inventividade. E é nesse contexto que surgem figuras como Tony da Gatorra, cujas criações se misturam com a energia de uma geração que aprendeu a “tirar coelho da cartola”. Criar do nada, quase nada, ou ressignificar os tudos, é uma tradição sólida dentro da música brasileira, desde o surgimento da guitarra baiana e do trio elétrico com Dodô e Osmar, ao coletivo Chelpa Ferro, que mistura arte visual e som com aparelhos eletrônicos de sucata.


Meio guitarra, meio bateria eletrônica


Quem já ouviu falar da gatorra, que parece um tanto com uma guitarra, mas tem a sonoridade de uma drum machine furiosa, sabe que a invenção é um pedaço de música esculpido com as mãos de quem nunca teve medo de inventar. Mais que um instrumento, a gatorra virou um espírito libertário da experimentação musical.


Não é só no Brasil que o som de Tony ecoa. O galês Gruff Rhys, por exemplo, da banda Super Furry Animals, se apaixonou pela gatorra. Não à toa: um músico que já era conhecido por experimentar sonoridades bizarras encontrou na gatorra o aliado perfeito para expandir ainda mais seus horizontes. A gatorra não só se encaixa bem na distorção da guitarra de Rhys, como também dá aquele toque sujo e analógico, que só uma invenção genuinamente artesanal pode trazer.


Mas a coisa não parou por aí. Com o tempo, outros músicos, de diferentes partes do mundo, começaram a se arriscar nessa onda, como o guitarrista Nick McCarthy, da banda Franz Ferdinand. Como um mestre do “faça você mesmo” musical, Tony, de alguma forma, criou um novo jeito de ouvir o mundo. Um tipo de ruído controlado que vai do caos à harmonia sem perder o charme de quem sabe que o processo criativo é mais importante do que a perfeição técnica na hora de arrebentar barreiras.


Tony e sua gatorra
Tony e sua gatorra

Tudo como o esperado


Nunca quis ser estrela, nunca quis estar no topo das paradas. O que ele queria (e conseguiu) foi ser lembrado como alguém que, a partir de seu próprio jeito de ver o mundo, conseguiu fazer sua criação dar saltos quânticos. Com a gatorra, ele desafiou as leis do bom senso e da tradição. E, cá entre nós, o que seria da música sem aqueles que decidem desafiar o status quo? Gente como Tony, que consegue transformar um pedaço de metal, madeira e eletrônica em pura magia sonora.


É aí que mora a genialidade de Tony da Gatorra: sua obra não é só o som, mas a prova de que é possível transformar qualquer coisa em música. Ele fez do simples uma experiência sonora única. E é isso que nos ensina: a música não precisa ser polida, não precisa se encaixar nas regras do mercado ou da indústria. A música precisa, na verdade, ser pura, verdadeira e, acima de tudo, humana.


Tony não é só um criador de instrumentos – ele é um símbolo do que acontece quando você arrisca a criação. Porque, no fim, quem faz música não é a tecnologia, nem o mercado. Quem faz música é quem ousa transformar o caos em harmonia. Tony, com sua Gatorra, é um daqueles mestres da invenção sonora que nos lembram que a verdadeira magia da música está em sua capacidade de se reinventar a cada som.


Veja aqui uma entrevista maravilhosa de Tony da Gatorra ao programa Matador de Passarinho, de Rogério Skylab, na TV Brasil:


 
 
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