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De Drogon a Caraxes: A Evolução do Som dos Dragões em Game of Thrones e House of the Dragon

  • Foto do escritor: Concreto Neves
    Concreto Neves
  • 30 de jun.
  • 3 min de leitura

Dia desses me bateu aquela saudade de ver Peter Dinklage fazendo um dos malandros mais ensaboados da TV e fui rever alguns episódios de Game of Thrones. Acabei por emendar em House of the Dragon e, no primeiro grito de dragão, pensei: "Opa! Tem alguma coisa diferente aqui!". Fui atrás de making ofs e entrevistas com Paula Fairfield, a sound designer que transformou uma biologia saída da própria cabeça em iconografia sonora, e trago aqui pra vocês a receita dessa sopa de barulho contendo rugidos de leão, bebês elefantes, ursos hibernando, morsas e um tiquinho de BDSM auditivo para responder a pergunta: Por que os dragões de Daenerys soam tão diferentes dos da era de seus antepassados?


Dá uma sacada nesse edit que fiz dos sons dos bichinhos:


Game of Thrones: A Infância Sonora dos Dragões


Nos primeiros anos de Game of Thrones, os dragões eram jovens e suas vozes refletiam isso. DrogonRhaegal e Viserion tinham vocalizações mais agudas, com sons de animais reais para criar uma conexão emocional com o público. Para os dragões jovens de Game of ThronesFairfield buscou sons que transmitissem vulnerabilidade. Ela usa sons de filhotes de leão, focas, entre outros animais, querendo que o público sinta que são criaturas reais. A ideia era fazer com que os espectadores reconhecessem traços familiares nos sons, mesmo que fossem emitidos por criaturas fantásticas.


O desenvolvimento de Drogon foi especialmente cuidadoso: A cada temporada, novas camadas sonoras entram para mostrar seu crescimento, começando com animais bebês e introduzindo sons mais pesados ao longo da série. Ele é imaginado como uma reencarnação de Khal Drogo.


Mesmo que cada um tenha sua personalidade, em geral, os 3 filhos da nossa querida Mhysa, a Cinderela Baiana de Mereen, trazem um perfil sonoro parecido, com foco em médios e agudos.


House of the Dragon: A Maturação do Terror Alado


Os dragões aqui são maiores e mais experientes, cada um com sua personalidade emocional e sonora muito mais bem definida.


Caraxes, o dragão de Daemon, é o responsável por esse artigo. Quando o bicho gritou de cara pra câmera logo me liguei que a abordagem do som tinha mudado de uma série para outra. Para esse dragão ela imaginou até problemas de saúde que influenciariam na vocalização, como desvio de septo e problemas respiratórios. O dragão ganhou um som que mistura animais reais com cabos de aço sendo torcidos. 


Já Vermithor tem camadas de sons metálicos que criam uma presença vocal que parece ecoar desde as profundezas da história da antiga Valyria, e Vhagar, a dragão idosa, teve seu rugido amplificado com texturas da natureza. Para essa velha senhora, Fairfield até inventou um diagnóstico de síndrome do intestino irritável. 


Detalhes Técnicos que Fazem a Diferença


Um dos segredos do sound design de Fairfield está na manipulação de frequências. Em Game of Thrones, ela priorizou médios e agudos para destacar a juventude dos dragões. Em House of the Dragon, subgraves e distorções dominam o espectro, dando o peso e a brutalidade para essas criaturas envelhecidas. 


Fairfield foi atrás de gravar animais em santuários para ter materiais mais autênticos, gravando ursos hibernando para o ronco dos dragões e gruas-do-Mississippi para o grito de morte de Rhaegal. Sons que dão vida emocional aos dragões.


Por que, afinal, soam diferentes?


De Drogon a Caraxes, enquanto os filhos de Daenerys soavam como filhotes desajeitados em busca de identidade, os dragões de House of the Dragon rugem como veteranos de guerra, levando nas costas o peso de séculos.


Paula Fairfield entrega pra gente uma biografia auditiva para cada dragão. Se em Game of Thrones ouvimos a adolescência desafiadora das criaturas, em House of the Dragon somos confrontados com o rugido da história: metálico, distorcido e cheio das cicatrizes do tempo.

Quando Caraxes grita com seu "desvio de septo" ou Vhagar ronca como uma velha senhora com problemas intestinais, não estamos ouvindo monstros de CGI, mas personagens de carne, osso, fogo e história. Fairfield nos lembra que, mesmo numa saga cheia de conchavos, picuinhas e tretas de família, são esses detalhes sensoriais que transformam mitos em criaturas vivas que respiram.


No fim, soam diferentes porque dragões, como humanos, têm infância, maturidade e velhice (mesmo que imaginadas). Só que, no caso deles, tudo vem com surround 7.1 e graves que fazem tremer as esquadrias da sala.


Fontes:

 
 
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