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Duas batidas de aliança em um armário: quase 10 anos do "tudum da Netflix"

  • Foto do escritor: Concreto Neves
    Concreto Neves
  • 30 de jun.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 2 de jul.

Não é só um som. O tudum da Netflix é um evento. Sim, literalmente. Desde 2020 a empresa faz um festival de cinema, séries e cultura pop que leva como nome a onomatopeia que um sound designer mais ouve quando chega um pedido de orçamento para assinatura sonora. "A gente queria tipo um... (pausa que já não carrega drama) tudum da Netflix" é uma frase recorrente nesse mercado. 


A assinatura foi desenvolvida em 2015 e estreou globalmente em 2016. Precisava atender a três critérios: curto, funcional e de reconhecimento imediato. O objetivo era claro: o expectador deve pensar que está diante do início de uma grande história. E, obviamente, soar bem em qualquer dispositivo.


Criado originalmente por Lon Bender (Drive e Jogos Vorazes) e Charlie Campagna (Blade Runner 2049 e Duna), o tudum bate no tímpano e a gente logo se anima com o que vem pela frente. Ele é minimalista, com camadas sutis de percussão e sintetizador que culminam em uma nota processada quase mágica. Sucesso.


A invenção do ícone


A parte principal e mais impactante do tudum é, simplesmente, Lon Bender batendo sua aliança de casamento em um armário de seu quarto, à la Frank Underwood, com outras camadas percussivas e de sintetizador, adicionadas por Bender. Mas ele ainda queria um elemento musical para um "crescendo tonal" no final.



É aqui que entra Charlie Campagna. Nos anos 90, ele compôs uma música de 30 segundos usando sua guitarra plugada em um processador Digitech GSP2101 e ao delay/looper Lexicon JamMan. Uma das notas dessa guitarra processada em delay reverso foi cortada e usada sem nenhum outro design de som no logotipo final da Netflix. É o som que você ouve bem no final, que os autores descrevem como "florescimento".


Depois de mais de 20 tentativas da dupla, incluindo opções como uma porta abrindo e o berro de uma cabra, o tudum que conhecemos foi aprovado. Já pensou se este artigo fosse sobre o "bée na Netflix"?



A reinvenção do ícone


Em 2020, a Netflix decidiu repaginar o tudum para exibições nos cinemas, e eles não foram atrás de qualquer compositor: meteram logo o Hans Zimmer, que você conhece por Intersellar, Gladiador, e muitos outros. Conhecido por conduzir as emoções do expectador com a mesma habilidade que conduz orquestras e sintetizadores, Zimmer pegou o som minimalista de dois segundos e deu a ele uma potência que preenche sistemas de som mais parrudos das maiores salas de cinema do mundo.



tudum original já era uma assinatura sonora perfeita para o ambiente digital. Simples, mas inesquecível, ele entrega o que precisa: impacto e clareza para as maratonas de streaming. Mas, o cinema exige outra presença. As salas gigantes pedem sons que preencham o espaço e cativem. 


A base continua a mesma: aquele impacto grave do começo e uma resolução tonal, mas Zimmer expandiu o conceito. Ele adicionou instrumentos de cordas em camadas crescentes, criando uma sensação de que algo grandioso está para acontecer. Os metais entram para intensificar, enquanto a percussão constrói tensão até o ponto final. Apesar dos 15 segundos a mais com cordas construindo tensão, Zimmer honrou a simplicidade e minimalismo do original enquanto transformava sua essência. Quem ouve reconhece o tudum, mas sente algo completamente novo.


A versão de Zimmer não é apenas um detalhe técnico. É um símbolo da ambição da Netflix de transcender o streaming e ser vista como um verdadeiro player do cinema. O som agora não só anuncia o começo de uma série ou filme, mas também carrega a mensagem: “Estamos aqui para contar histórias tão grandiosas quanto qualquer blockbuster de Hollywood.”


Essa adaptação é um estudo de caso perfeito de como branding sonoro pode evoluir sem perder sua identidade. Zimmer deu um novo significado ao tudum mantendo sua essência, mas traduzindo-a para um público e um espaço diferentes.


E você, já ouviu essa versão no cinema em 7.1?

 
 
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