Music branding nos games: um multiverso de possibilidades (e uma oportunidade para o Brasil)

Sabia que o Metallica não é só trilha sonora da sua adolescência rebelde, mas também de batalhas épicas no Fortnite? Pois é. A banda entrou no jogo com Master of Puppets, transformando headbangers em gamers e gamers em headbangers, por mais que soe como pleonasmo. Fortnite  provavelmente lidera o uso de music branding nos games, com parcerias que vão de shows com Travis Scott à mais recente com Eminem, Snoop Dogg e Ice Spice. 

Outro exemplo que coloca música e games no mesmo palco é o Brawl Stars, que recentemente colaborou com a banda DragonForce. O jogo conseguiu atrair não só os fãs da banda, mas também aqueles que amam o desafio que a música representa, provando que trilhas sonoras certas podem ser benéficas para ambas as partes, não só ampliando a base de jogadores, mas trazendo novos fãs às bandas e artistas. Eu mesmo passei semanas ouvindo meu filho de 11 anos cantando DragonForce em casa, o que jamais considerei uma possibilidade, mesmo em meus sonhos surrealistas mais dalinescos. 

Por que isso importa?

Parceria Matellica e Fortnite

Segundo a Statista, em 2024, o mercado de jogos vai movimentar mais de US$ 282 bilhões globalmente, com uma fatia considerável desse valor vindo de colaborações musicais e eventos exclusivos. A música, quando integrada de forma criativa, não só aumenta o engajamento como também expande o público-alvo de ambas as indústrias. É o que aconteceu com Guitar Hero e Rock Band, que alavancaram o consumo de música entre jovens na década de 2000 e influenciaram até mesmo rankings da Billboard.

Agora, corte para 2024. A evolução das tecnologias de jogo, especialmente no mercado mobile, abriu espaço para que músicos independentes e gigantes do mainstream criassem experiências para os jogadores. Jogos como Roblox têm plataformas onde qualquer artista pode criar shows virtuais, democratizando o acesso a esse tipo de integração.

E o Brasil?

Infelizmente, ainda engatinhamos nesse campo. Enquanto estúdios estrangeiros como Garena (Cingapura) já perceberam o potencial de engajamento de nomes como Alok e Anitta, que são personagens jogáveis em Free Fire, e a EA Sports trouxe Tropkillaz, Baiana System, Emicida e vários outros às trilhas de várias edições do FIFA, o mercado de games nacional ainda precisa de estratégias mais consistentes de music branding. Um case que vale citar, mesmo não sendo diretamente do jogo, foi a trilha sonora original de Heitor Pereira para Angry Birds the Movie. Mas e nossos estúdios independentes? Títulos como Horizon Chase Turbo, da Aquiris Game Studio, que traz um apelo visual e sonoro nostálgico puxando Barry Leitch (o mesmo da trilha do Top Gear original), mostram que há espaço para mais parcerias, mas faltam iniciativas que conectem artistas, produtores e desenvolvedores. 

Pense comigo: o Brasil é berço de gêneros como funk, samba, MPB, sertanejo e brega. Tenta visualizar um jogo mobile com trilha de bregafunk ou um universo cyberpunk cheio de beats de trap brasileiro? Imagina ligar o rádio de um carro dentro de um jogo e ouvir o clássico beat de Oberheim DMX em Fullgás (Marina Lima), ou o baixo de Arthur Maia em Lilás (Djavan). Foi o que GTA V fez com artistas como Doobie Brothers, Phil Collins e mais uma infinidade de outros. Temos tudo para criar narrativas sonoras que sejam tão potentes quanto as estrangeiras, e ainda com aquele jeitinho único de abrasileirar as coisas.

Um Convite ao Futuro

Se você é um estúdio brasileiro, por que não olhar para o music branding com mais carinho? Pense no potencial de criar uma experiência de jogo que faça barulho dentro e fora do país. E se você é artista, talvez esteja na hora de conversar com desenvolvedores e explorar essa nova frente criativa. Afinal, já que o mundo gamer e o musical estão cada vez mais interligados, por que não colocar o Brasil como protagonista dessa história?

Bora fazer juntos?